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Quando faltar um treino é o melhor treino: porque o descanso é essencial para a alta performance.



Você já sentiu que seu corpo estava pedindo um tempo, mas ignorou os sinais e foi treinar mesmo assim? Pois é, eu também. Esta semana, senti um cansaço intenso após o volume de treinos de ciclismo e percebi que não estava 100%. Diante disso, tomei uma decisão que, há alguns anos, talvez eu não tivesse coragem de tomar: optei por faltar um treino. Não por preguiça ou falta de disciplina, mas porque entendi que, às vezes, deixar de treinar hoje significa manter a consistência ao longo da semana — e, no fim das contas, ao longo de toda a jornada esportiva. Essa escolha pode parecer contraintuitiva para quem busca alta performance, mas o descanso, assim como o treino, é parte fundamental da preparação.


Quando treinamos, estamos, na verdade, causando microlesões no tecido muscular, exigindo adaptações cardiovasculares, neuromusculares e até cognitivas. O processo de melhora acontece justamente no descanso, quando o organismo repara os danos e se fortalece para suportar cargas ainda maiores. Sem o tempo adequado de recuperação, o corpo não apenas para de evoluir, mas entra em um estado de alerta que pode levar ao esgotamento físico e mental.


A psicologia do esporte ressalta a importância de respeitar os limites do corpo para manter a saúde mental e a motivação ao longo do tempo. Atletas que ignoram o descanso tendem a experimentar uma queda no desempenho e maior vulnerabilidade a sintomas de ansiedade, irritabilidade e desmotivação.


Você já parou para perceber os sinais de que o corpo precisa descansar?


O corpo é inteligente e envia sinais claros quando precisa de uma pausa. O desafio é aprender a escutá-los antes que o cansaço vire lesão ou esgotamento. Alguns sinais físicos, emocionais e cognitivos indicam que o corpo pode estar entrando em um estado de sobrecarga:


  • Físicos: cansaço persistente, dores musculares prolongadas, aumento da frequência cardíaca de repouso, maior suscetibilidade a resfriados e lesões.

  • Emocionais: irritabilidade, desmotivação, sensação de estagnação.

  • Cognitivos: dificuldade de concentração, lapsos de memória, sensação de "mente embaralhada".


Esses sinais não são fraqueza; são mecanismos de defesa do organismo. O corpo está dizendo: "Ei, eu preciso de uma pausa para continuar te levando longe!".


Over-Reaching x Overtraining: Qual a diferença?


Na preparação esportiva, existe uma linha tênue entre o estímulo necessário para a evolução e a sobrecarga prejudicial.


  • Over-Reaching (sobrecarga funcional): É um estado temporário de fadiga decorrente de treinos intensos, mas que pode ser revertido com alguns dias de descanso. Muitas vezes, o over-reaching é até planejado em períodos de carga elevada, seguido de um deload (redução da carga) para que o corpo supere os limites anteriores.


  • Overtraining (síndrome de overtraining): Ocorre quando a sobrecarga se prolonga além da capacidade de recuperação do organismo. Os sintomas são mais intensos, como insônia, irritabilidade, perda de performance e, em alguns casos, quadros depressivos. O tratamento pode levar semanas ou meses e requer acompanhamento profissional.


Será que aquela sensação de cansaço que você sente é um over-reaching momentâneo ou o prenúncio de um overtraining?


Para quem busca alta performance, a relação com o descanso pode ser complexa. Há um mito de que "quanto mais, melhor", mas é preciso entender que o descanso é uma estratégia, não um sinal de fraqueza. Atletas que equilibram treino, descanso e recuperação apresentam melhor performance e menores índices de burnout. Além disso, compreender os limites do próprio corpo aumenta a autoconfiança e a resiliência, fundamentais em competições de alto nível.


Dicas práticas para evitar o esgotamento


  1. Monitore seus sinais: acompanhe seu humor, sono, frequência cardíaca e percepção de esforço.

  2. Planeje o descanso: inclua dias de descanso ativo e períodos de redução de carga.

  3. Escute o corpo, não o ego: faltar um treino não significa falhar, mas respeitar o processo.

  4. Priorize o sono: é o principal mecanismo de recuperação do organismo.

  5. Treine a mente para a pausa: lembre-se de que consistência não é perfeição.


E você, tem conseguido escutar os sinais do seu corpo?


Se a resposta for "não sei" ou "às vezes", talvez seja hora de prestar mais atenção. Porque, no esporte — e na vida —, o verdadeiro progresso acontece quando equilibramos esforço e recuperação. Afinal, o treino não precisa estar "pago", ele precisa estar bem feito! E, para isso, o descanso é um dos maiores aliados da performance.


Descansar não é sinal de fraqueza — é uma escolha inteligente para quem busca alta performance com consistência. Em um mundo que romantiza o "não parar nunca", atletas e profissionais que compreendem o poder da pausa estão, na verdade, um passo à frente. Escutar os sinais do corpo, respeitar os momentos de cansaço e ajustar o planejamento quando necessário não significa "perder" treinos, mas sim construir uma base sólida e sustentável para evoluir a longo prazo.


Sem o equilíbrio entre esforço e recuperação, o desempenho fica comprometido e o risco de lesões e esgotamento aumenta significativamente. Então, da próxima vez que o corpo enviar um pedido de descanso, pergunte-se: "Estou treinando para evoluir ou apenas para 'cumprir o planejado'?" Porque, no fim das contas, o verdadeiro progresso não acontece apenas no movimento, mas também nas pausas que nos permitem seguir adiante com mais saúde, energia e leveza.

 
 
 

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    ©2021 por Paula Figueira Psicanalista e Psicóloga Esportiva. Orgulhosamente criado com Wix.com

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