A busca pela longevidade a qualquer custo: Bryan Jhonson e Project Blueprint.
- Paula Lampé Figueira
- 23 de jan.
- 4 min de leitura
Nos últimos anos, a busca pela longevidade tem atraído atenção crescente, com cientistas, empreendedores e biohackers explorando maneiras de retardar o envelhecimento. Esses visionários, Bryan Johnson, fundador do "Project Blueprint", tornou-se um dos rostos mais emblemáticos do movimento, com o ambicioso objetivo de reduzir sua idade biológica e otimizar a saúde de seus órgãos. Seu slogan provocativo, don´t die" (não morra), sintetiza essa busca pela imortalidade ou, pelo menos, pela extensão máxima da vida saudável. No entanto, a mensagem carrega um peso que vai além da ciência.

"Não morra" é um imperativo que instiga reflexões éticas, filosóficas e sociais sobre o sentido da existência, os limites da medicina e as desigualdades no acesso a esses avanços. Ainda assim, o slogan também pode ser interpretado como um chamado à prática de comportamentos saudáveis e à rejeição de hábitos autodestrutivos, valorizando os pilares fundamentais da saúde e do bem-estar.
O documentário da Netflix Don't Die: The Man Who Wants to Live Forever oferece uma visão íntima da jornada de Bryan Johnson em sua busca para retardar o envelhecimento e estender a vida além dos limites conhecidos. Dirigido por Chris Smith, o filme explora as práticas controversas de bem-estar que Johnson adota, incluindo uma rotina diária rigorosa e tratamentos inovadores, destacando o impacto dessa busca em sua vida pessoal e nas relações com aqueles ao seu redor.
O projeto de Johnson é uma obra-prima da obsessão pelo controle do corpo humano. Sua rotina inclui uma dieta vegana restrita a 1.977 calorias diárias, mais de 100 suplementos diários para suprir possíveis deficiências nutricionais, rotinas de exercícios milimetricamente planejadas, monitoramento constante de biomarcadores e a busca por métodos de rejuvenescer órgãos e tecidos. Ainda assim, é o impacto desse estilo de vida que desperta as principais críticas. Johnson não apenas procura adiar o envelhecimento; ele busca subverter o ciclo natural da vida. A frase "não morra" não é só uma estratégia de marketing; é um manifesto que sugere uma luta direta contra a finitude humana.
Por outro lado, o slogan também pode ser interpretado de forma mais prática: como um convite à prevenção e ao cuidado com a própria saúde. "Não morrer" não precisa significar desafiar a mortalidade, mas sim viver com qualidade e propósito. Nesse sentido, o projeto de Bryan Johnson pode inspirar a rejeição de hábitos autodestrutivos, como o sedentarismo, o consumo excessivo de álcool, tabaco ou alimentos ultraprocessados, e a negligência com a saúde mental.
"Não morrer" pode simbolizar a escolha consciente de priorizar comportamentos saudáveis e sustentáveis para o corpo e a mente. Esse compromisso com a saúde se apoia em quatro pilares fundamentais: sono, alimentação, exercícios e vida em comunidade. A qualidade e a duração do sono são essenciais para a regeneração celular, o equilíbrio hormonal e a saúde mental. Johnson, por exemplo, segue uma rotina rigorosa de sono, reconhecendo sua importância para o bem-estar físico e cognitivo. Uma dieta equilibrada e rica em nutrientes é fundamental para prevenir doenças e manter o corpo funcionando em seu melhor estado. Embora a dieta de Johnson seja restritiva, ela reforça a importância de alimentos naturais e da nutrição consciente.
Manter-se ativo é um dos maiores aliados da longevidade. O movimento fortalece o coração, melhora o humor e contribui para o equilíbrio metabólico, além de ser uma das práticas mais acessíveis para quem busca saúde e qualidade de vida. Relações sociais saudáveis são indispensáveis para o bem-estar emocional. A ciência mostra que o isolamento social é tão prejudicial quanto hábitos ruins como fumar. Ainda que Bryan Johnson seja frequentemente criticado por seu foco individualista, sua mensagem pode nos lembrar da importância de cultivar conexões significativas.
Mas é necessário refletir criticamente sobre o impacto de um slogan tão provocativo. O imperativo "não morra" pode, paradoxalmente, afastar as pessoas de uma vivência plena. A vida, em sua essência, é marcada pela incerteza e pelo inevitável fim. Gastar tanto tempo e energia para evitar o envelhecimento pode levar à perda do momento presente. Será que viver em função de "não morrer" significa realmente viver?
O projeto de Johnson também exemplifica a elitização dos avanços da medicina. Enquanto ele gasta milhões em testes, dietas e intervenções, grande parte da população mundial ainda luta por acesso básico à saúde. A ideia de "não morrer" parece acessível apenas a uma parcela mínima da sociedade, levantando questões éticas sobre a equidade no acesso a essas tecnologias. Além disso, a mortalidade não é apenas um limite biológico; é também um ponto de referência para nossas escolhas. Sem o "prazo de validade", as prioridades mudariam? É a consciência da finitude que, muitas vezes, dá sentido ao trabalho, aos relacionamentos e às realizações humanas. Ao tentar escapar da morte, não estaríamos também escapando daquilo que nos torna humanos?
Embora os avanços da ciência tenham aumentado a expectativa de vida e melhorado a qualidade dela, a promessa de "não morrer" ainda parece mais um sonho do que uma realidade. Johnson já enfrentou contratempos em suas práticas, como transfusões de plasma que não geraram resultados significativos e reações adversas a tratamentos experimentais. Isso reforça o quanto estamos longe de desafiar as leis naturais da biologia de forma consistente e segura.
O "Project Blueprint" é, sem dúvida, uma iniciativa impressionante e provocadora, mas também controversa. Por trás do slogan "não morra" está uma visão de mundo que desafia conceitos fundamentais sobre a vida, a morte e o propósito humano. Ainda assim, ao reinterpretar o slogan como um convite ao autocuidado e à adoção de hábitos saudáveis baseados nos quatro pilares da saúde, ele pode se tornar um norte inspirador. Afinal, a verdadeira questão pode não ser como "não morrer", mas como viver de maneira significativa, com saúde, equilíbrio e propósito, abraçando a finitude como parte do que nos torna vivos.




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