Chupeta para adulto: solução para ansiedade ou muleta emocional?
- Paula Lampé Figueira
- 13 de ago.
- 3 min de leitura
Quando a ansiedade aperta, cada um se vira como pode. Uns meditam, outros contam carneirinhos. Na China, milhares de jovens passaram a… chupar chupeta!

Sim, versões de silicone feitas para adultos estão sendo vendidas como alívio para insônia, estresse e até como estratégia para largar o cigarro. Custam de US$ 1,40 a US$ 70 e já somam milhares de vendas em poucos meses.
Dentistas já ligaram o alerta: mais de três horas por dia desse hábito podem mudar a posição dos dentes em menos de um ano, provocar problemas na mandíbula, infecções e até dificuldades de fala. Mas a questão mais incômoda não é essa. A pergunta é: o que um gesto tão infantil está dizendo sobre a vida adulta de quem o pratica?
Na psicanálise, Freud chamou de pulsões essas forças que nos atravessam e buscam descarregar energia. Uma delas, a pulsão oral, aparece nos primeiros meses de vida: o prazer de sugar, morder, engolir. A chupeta, nesse contexto, é mais que um pedaço de silicone — é uma porta de volta para um estado de conforto primordial. Lacan diria que é a tentativa de reencontrar o objeto a, aquilo que acreditamos que vai nos acalmar de vez, mas que nunca cumpre essa promessa. Por isso precisamos repetir. Winnicott talvez fosse mais generoso: ele veria aí um objeto transicional — algo que ajuda a suportar a ausência e a angústia. Na infância, ele cumpre um papel essencial. Mas quando o carregamos para a vida adulta sem elaboração, ele deixa de ser ponte e vira muleta.
É aqui que o esporte entra como um contraponto. Se a chupeta é um convite à regressão, o treino é um chamado à criação. A mesma energia que se descarrega no ato repetitivo de sugar pode ser canalizada para nadar, correr, pedalar, lutar, levantar peso. No corpo em movimento, a pulsão agressiva — que poderia se voltar contra si mesma — encontra uma saída no real. E, diferente do alívio passageiro, o esporte constrói algo: resistência, disciplina, clareza mental, vínculos. É uma descarga que deixa rastro, e não apenas um silêncio temporário na ansiedade.
O problema não está na chupeta em si, mas no risco de depender exclusivamente dela para lidar com a ansiedade. Sem enfrentar a causa, o sintoma retorna — seja com outro objeto, seja com a mesma repetição. Na psicanálise, entende-se que não há um objeto que nos satisfaça por completo, mas o esporte mostra que é possível encontrar muitos caminhos para transformar essa energia em algo construtivo e real.
A chupeta pode até acalmar, mas não vai te ajudar a entender por que você precisa dela. E enquanto você não encarar isso, qualquer outro objeto — uma taça de vinho, um treino exagerado, uma compra por impulso — vai ocupar o mesmo lugar. Você pode seguir buscando calmarias de cinco minutos ou pode escolher olhar para o que está por trás da ansiedade e encontrar outros caminhos para essa energia.
A terapia é um bom espaço para isso: um espaço seguro para dar forma a essa energia, encontrar caminhos que realmente te façam avançar e transformar a ansiedade em movimento, em vez de te manter presa no mesmo ponto. Não é sobre “se livrar” do que você sente. É sobre dar forma a essa energia, transformar a ansiedade em movimento, e encontrar caminhos que realmente te façam avançar — em vez de te manter presa no mesmo ponto.
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Muito obrigada pela reflexão. Muito legal pensar sobre isso 👏 adorei!