Como um campeão continua motivado depois de conquistar tudo?
- Paula Lampé Figueira
- 6 de ago.
- 3 min de leitura

Tadej Pogačar conquistou seu quarto título no Tour de France. Aos 25 anos, o ciclista esloveno já venceu praticamente tudo que um atleta da modalidade sonha vencer. Ele é milionário, treina em uma das equipes mais estruturadas do mundo (UAE Team Emirates), tem um staff de especialistas ao seu redor, acesso aos melhores equipamentos, suporte psicológico, nutricional, fisiológico, tecnológico. Ele vive e respira alta performance. E a pergunta que muita gente se faz — especialmente quem acompanha o ciclismo mais de perto — é: o que ainda move um atleta como ele?
É comum imaginar que a motivação está ligada ao que ainda falta conquistar. Um pódio. Um tempo. Um título. Um reconhecimento. Um número. Mas quem já chegou lá sabe: ficar no topo é tão (ou mais) desafiador quanto alcançá-lo. E é aí que entra uma distinção fundamental: a motivação de resultado não é suficiente para sustentar o desempenho por tanto tempo. Ela pode até impulsionar no começo, mas não resiste às exigências diárias do alto rendimento.
O que sustenta um atleta como Pogačar? Provavelmente, uma motivação mais profunda, mais enraizada. Uma motivação que vem de dentro. Quem acompanha a trajetória do esloveno já percebeu: ele parece genuinamente apaixonado por pedalar. Ele é competitivo, claro — mas também parece se divertir em cima da bicicleta. Sorri, provoca os rivais com leveza, ataca quando ninguém espera. Ele se desafia.
E isso nos ensina algo importante: campeões continuam porque o esporte faz sentido para eles, mesmo quando os troféus já não são novidade. Pogačar, como tantos outros grandes atletas, não está apenas correndo atrás de vitórias. Ele está engajado num processo que alimenta algo essencial para ele: autonomia, identidade, liberdade, pertencimento, superação. Essas são formas de motivação que a psicologia chama de motivação intrínseca — aquela que nasce do prazer e do valor que a própria atividade tem, e não só do que se conquista com ela.
O que pouca gente sabe é que, além de todo o suporte físico, Pogačar também investe na sua preparação mental. Ele trabalha com Stijn Quanten, fundador do Huis 39, um centro de excelência dedicado ao funcionamento ideal do corpo e da mente. Esse detalhe revela que mesmo com todo o talento, experiência e estrutura, ele não abre mão de cuidar da mente.
E isso não é coincidência, é consciência. É saber que a performance verdadeira — aquela que se sustenta — vem do alinhamento entre corpo, mente e propósito.
Claro que você pode estar pensando: “Mas eu não sou Pogačar. Eu não tenho uma equipe me acompanhando. Nem sempre consigo treinar o quanto gostaria. Eu tô tentando manter a motivação no meio do trabalho, da casa, dos filhos, da vida real…” E é aí que esse tema fica ainda mais interessante. Porque manter a motivação em contextos com menos estrutura, menos apoio e mais variáveis desafiadoras exige autoconhecimento, inteligência emocional e, muitas vezes, acompanhamento psicológico.
A boa notícia é: a motivação também pode ser “treinada”, mas não como se treina um músculo, mas da forma como se cultiva uma relação. Com escuta, com atenção, com espaço para entender por que você começou, o que ainda te move, o que precisa mudar.
Então, se você está passando por um momento de desânimo, de dúvida, ou de cansaço nos seus treinos ou em outras áreas da sua vida, talvez a pergunta que precise ser feita não seja “como manter a motivação?” — mas sim: o que faz isso tudo ainda valer a pena pra mim?
Quando você encontra essa resposta, a motivação volta. E não porque você se forçou, mas porque se reconectou. Se você sente que precisa reorganizar sua relação com o seu treino, com seus objetivos, ou com você mesmo, talvez seja hora de contar com apoio profissional.
Vai ser um prazer pedalar com você nesse pelotão!
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