A ansiedade pode ser tratada pela psicanálise?
- Paula Lampé Figueira
- 26 de mar. de 2021
- 2 min de leitura

Os tempos pandêmicos já nos parecem infinitos e cada vez mais a ansiedade e depressão entram em cena. E proporcionalmente aumenta também a procura por ajuda profissional para tratamento desses quadros que na atualidade, são mais comuns do que você imagina.
O psicanalista Cris Dunker aponta que a experiência clínica nos mostra que a ansiedade pode ser tratada pela psicanálise e com bons resultados - não necessariamente a longo prazo como se costuma dizer por aí.
Mas é importante esclarecer que para a psicanálise, ansiedade não é a mesma coisa que medo ou angústia. O medo está ligado a uma experiência que conseguimos nomear. Temos medo e sabemos muito bem de quê. Medo de barata, medo de altura, medo da morte: no medo há uma certeza, há objeto que nos é conhecido.
Já na ansiedade há uma indeterminação do objeto e o estabelecimento de uma dúvida. Temos medo, mas não sabemos medo de quê. A ansiedade está relacionada com um excesso de expectativas, se configurando portanto como uma crise do desejo. Você quer muito que algo aconteça, mas não sabe se isso realmente vai acontecer. Ou você tem muito receito de que algo aconteça e não saber como evitar a situação.
A angústia vai além. É o que podemos caracterizar como os quadros de pânico e que Freud chamou de neuroses de angústia. Manifesta-se pelas atuações e acting-outs, que são formas de ansiedade que às vezes passam despercebidas pois são resolvidas com ações para que o sujeito não pense absolutamente nada sobre isso.
Como aponta Lacan, o que não é simbolizado retorna no real, ou seja: o que não é nomeado, o que não colocamos palavras, comparece no corpo seja na forma de ações ou de somatizações. Quando a angústia entra em cena, o sujeito age em vez de pensar ou de sentir. É uma invasão da fantasia inconsciente na realidade. Nesses casos o primeiro passo é o reestabelecimento da experiência psíquica ou interna da própria angústia.
Quando a angústia é somatizada ela comparece no real do nosso corpo de diversas formas como sensações de falta de ar, palpitação, mal estar, dores de garganta, infecções, problemas dermatológicos. São destinos para aquilo que não podemos nomear. A angústia está ligada a depressão, onde o sujeito comparece reduzido a certeza de que somos apenas um corpo. Lacan aponta que na angústia não se trata da falta do objeto, mas de sua presença. Porém não se trata de um objeto concreto como o objeto do medo, mas da presença do objeto a, fonte essencial do trauma que constitui o humano, aquilo que é impossível de ser simbolizado que é a causa do nosso desejo. Para Lacan, a angústia é um afeto que não engana!
Já que a ansiedade é uma crise do desejo, seu tratamento pela psicanálise parte de um redimensionamento da relação do sujeito com o desejo, na tentativa de reduzir a captura desse desejo pelo ego e pelas imagens narcísicas, pelo desejo das demandas do Outro ou pelas formas de gozo corporais e experienciais. Ou seja: é um tratamento que passa pela subjetivação do desejo. Tanto o medo quanto a ansiedade e a angústia fazem parte da constituição dos seres humanos. Jamais viveremos sem elas, mas a psicanálise nos ensina que é possível fazer com que elas joguem a nosso favor!




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